31.7.07

NA MODA

Vi hoje. Rapaz de peito estufado feito um pombo, dois quilos de chapa prateada por cima da blusa. Andava sem pressa e atento como um albatroz. Em vez de peixe, procurava, com olhos de lince, gatinhas perdidas desfilando sobre o tapete xadrez de pedras portuguesas. Enquanto um braço vinha, o outro ia. Um compasso de fazer inveja ao Mestre Ciça, nota 10 no batuque da Viradouro. Os ombros dançavam, mas sem a graça de uma Juliana Paes. Um tênis de sete molas, a ponta dourada de ouro. A meia não deu pra ver, posto que estava sob a calça de material sintético de que desconheço. Era branca e esticadinha da silva, aposto um braço e uma perna. Andando, buscava a ginga malandra de Madame Satã, um bicão emoldurando a cara de poucos amigos. Sem êxito, lembrava um quitandeiro acostumado a caixas de batatas no lombo. No punho esquerdo, o Bolex cravejado de swarovski. No direito, um emaranhado de pulseiras prateadas - pra combinar com o cordão. Pernóstico que só.

Mas o que chamou a atenção mermo foi a estampa da camisa:

"100% PROSTITUTO".

29.7.07

STRAY CATS JÁ

Alou! Os Stray Cats acabam de pôr os pés na estrada novamente. Após 15 anos longe dos palcos americanos, o trio liderado pelo guitarrista Brian Setzer - que dispensa apresentações - voltou a despejar seu rockabilly matador neste domingo com um show no Scottrade Center, no Missouri, dando início a tão aguardada turnê americana.

Alguém no Brasil, por obséquio, poderia trazê-los para fazer uma festa bonita aqui? Onde estão os curadores do TIM Festival numa hora dessas?

Uma sugestão?

Squirrel Nut Zippers abrindo pros Cats, numa noite dedicada às oncinhas e pin-ups em trajes sumários de topetinhos impecáveis. Certo que colocaria o TIM nos anais da história. E não é exagero afirmar, tu sabe. Papo de noite de gala.

Imagina isso e isso na esquina de casa, rapagi.

STRAY CATS JÁ!

27.7.07

CHEGA DE SAUDADE

Numa Ipanema deserta, ainda sem a muralha de prédios que hoje corta a paisagem, Luiz Bonfá, João Gilberto e Tom Jobim tocam para as atrizes Mylène Demongeot, Gloria Paul e Sylvia Koscina. João e Bonfá estão vestidos de maneira impecável. Tom é o único sem camisa. Sentados na areia, fazem uma rodinha e, com muita bossa, seduzem as três pin-ups em biquínis de duas peças. Lindas. Sylvia, deitada de frente para Tom, não esconde seu encanto pelo maestro, que tem o topete ao vento. Uma correria se instala, um peixe fisga a isca lá atrás. Tom continua sentado. Sylvia também. Com uma sereia aos seus pés, o maestro dá por encerrada a pescaria.

O filme é "Copacabana Palace", do italiano Steno (Stefano Vanzina). Uma raridade de 1962.





E tem mais

Entrevista de Tom Jobim a Roberto D'Ávila. Programa "Um Nome na História", 1981.

"Eu detestava piano. Achava piano coisa de menininha. Eu gostava de jogar futebol. Ninguém troca uma praia azul, uma moça bonita, uma peteca, uma bola, por um quarto escuro, um cubo de trevas onde você vai tocar piano. O Sérgio Mendes, por exemplo, teve osteomielite, tuberculose nos ossos. Ele ficava sentado num piano, na praia de Icaraí, tocando e vendo as moças jogarem bola com os moços. Pra você não viver a realidade e começar a escrever música, é peciso de uma coisa muito forte."
* * * *

Entrevista feita por Sidney Rezende para o programa "A Baleia Verde", de 1988. O maestro bate um papo com o jornalista sobre preservação da natureza.

"Eu tenho uma permissão pra entrar no Jardim Botânico porque ajudei esse negócio de ecologia. Eu moro aqui e sempre que eu tenho um tempo eu passeio, vejo os bichinhos, os esquilos... Tem muito bicho aqui, né? O Rio de Janeiro só tinha mato. Era onça, anta, jacaré... Eu me lembro de um dia, em Ipanema, que a minha turma pegou um jacaré e botou lá no lago da General Osório. O Jacaré foi crescendo, crescendo e virou um bicho enorme, no meio do laguinho."
* * * *

Tom explica a diferença entre jazz e bossa nova no programa "A influência do Jazz", com Leny Andrade e Luiz Carlos Vinhas, exibido pela extinta Rede Manchete.

João Gilberto tocando "Chega de Saudade" acompanhado por Bebel Gilberto, sua filha, ainda moça.

Por último, uma surreal entrevista de Amaury Jr com João Gilberto, que se pendura como pode em Nelson Motta e Eduardo Souto.
* * * *

Você já viu a série de posts francófanos do Lounge? Então corre lá. Claro que entrei na onda.

26.7.07

RIO
O Pan é uma cachaça.
De alambique.
Dourada.
Das boas.

16.7.07

O CABELO DE SERGUEI

Não é peruca, como muitos acham, mas mega hair que Serguei usa. Uma técnica caseira que ele mesmo desenvolveu. Trata-se de colar os fios diretamente na cabeça com super bonder. Aliás, Serguei usa a cola para tudo, desde pregar quadros na parede até fixar prateleiras. Acha um barato. Pois, para dar forma ao engruvinhado capilar, Serguei consome horas na frente do espelho todos os dias. Também é na frente deste que, com dedicação sacra antes do café, passa horas se maquiando. Gasta, praticamente, um lápis cajal por semana. Gosta dos olhos pretinhos da silva, feito Alice Cooper. Pinta as unhas também. E quando fala, as mãos não param de gesticular. Aliás, é cheio de cocoetes. Espetar a mandíbula com o dedo fura-bolo, quando se empolga, é dos mais estranhos. Nunca chama ninguem de "menino", diz que é sinal de velhice. Prefere usar os tradicionais "cara" e "bicho". No rosto, pra cobrir o vinco dos mais de 70 anos dedicados ao rock, uma camada generosa do creme Tracta, da Pharmaervas, que manda vir de São Paulo. Diz que é milagroso. Pra esticar as rugas, usa uma técnica infalível, muito popular entre as atrizes de Hollywood da década de 50. Mas essa é segredo.

Tudo isso "pra ficar bonito na hora de receber o pessoal no museu do rock, gente do mundo inteiro", gaba-se.

Mas não só. Serguei é paquerador. E traça geral. Saquarema que o diga.

10.7.07

DESENHOS PROIBIDOS

Não é novidade que a Segunda Guerra Mundial foi marcada pela propaganda nazista. O material variado ia de panfletos com pin-ups lançados por morteiros sobre as trincheiras aliadas - como relatou Joel Silveira, correspondente brasileiro dos Diários Associados durante o conflito -, a obras cinematográficas grandiosas, como "O Triunfo da Vontade" e "Olympia", ambas de Leni Riefenstahl, cineasta brilhante que passou à história como maldita, acusada de colaborar com o Terceiro Reich. Mas os alemães não estavam só nesta guerra ideológica. Os Aliados também lançavam seus ataques, sobretudo por meio dos estúdios Walt Disney.

Sem a menor cerimônia, Disney colocou seus personagens a serviço das forças armadas americanas. O Pato Donald era dos mais ativos recrutas, o que lhe rendeu o papel principal no infame "Der Fuehrer's Face", no qual sonhava estar na NAZILÂNDIA trabalhando numa fábrica de munições. Como se não bastasse, o desenho faturou o Oscar de melhor curta de animação de 1943.

Der Fuehrer's Face


Entretanto, a animação mais controversa de todo o período não trazia nenhum personagem famoso. Lançada em 1943 com a intenção de ser uma poderosa arma contra o regime nazista, "Hitler's Children" ("As crianças de Hitler") contava a história do pequeno Hans, um menino nascido sob a ideologia nazista que passava a infância sendo educado com base no Mein Kampf para se tornar um soldado cruel, cujo dever consistia unicamente em lutar pelo Terceiro Reich. Lançando mão de diversas metáforas lúdicas, o desenho era feito para assustar as crianças americanas e semear, nestas, o ódio contra os alemães.

As crianças de Hitler


Dirigido por Clyde Geronimi - conhecido pelos clássicos "A bela Adormecida" e "Peter Pan", além da série do Homem Aranha na década de 60 - e animado pelo mítico Ward Kimball - um dos principais artistas dos estúdios Disney, cujas mãos deram vida a personagens como Pinóquio e Cinderela, além das seqüências do musical Fantasia -, o filme acabou sendo banido logo após o lançamento. O motivo, segundo as autoridades da época, foi devido ao seu caráter ambíguo, o que induzia o público a acreditar que todos os alemães eram nazistas. Além disso, foram condenadas as associações feitas com elementos do universo infantil, como a bruxa (representando a democracia), a donzela indefesa (a própria Alemanha sob as garras da bruxa) e o cavalheiro heróico (Hitler, que deveria salvar a Alemanha da maligna democracia).

Assim que foram banidos das telas, Disney declarou que "Hitler's Children" e "Der Fuehrer's Face" seriam destruídos e jamais relançados em qualquer formato. Pois em 2004 a Walt Disney Pictures surpreendeu ao lançar em DVD os dois desenhos proibidos, além de diversos outros filmes de propaganda da Segunda Guerra, num box histórico.


Regalos

Siga para baixar o pacotão com mais de 1GB de desenhos proibidos da Segunda Guerra.

E aqui, para uma cópia de "Hilter's Children" para guardar na estante.

Não gosta de baixar? Então assista à seleção de desenhos banidos direto do YouTube.

5.7.07

DOCUMENTO ESPECIAL: TELEVISÃO VERDADE

Recém aberto à democracia, o Brasil começava a gozar da liberdade de expressão que lhe fora negada durante os longos anos de chumbo. A TV, livre da mordaça, mostrava finalmente o verdadeiro país nas telas. Neste cenário, Nelson Hoineff, então diretor de jornalismo da extinta TV Manchete, apresentou à emissora um projeto de programa que tinha como característica abordar temas desconfortáveis aos brasileiros, mas que faziam parte do cotidiano nacional. Nascia assim, em 1989, o Documento Especial.

Exibido semanalmente em um formato de 30 minutos, o programa mergulhava fundo em temas tabus que eram abordados de maneira direta. Não à toa, o programa tinha um forte apelo popular. Chamava a atenção as reportagens investigativas, nas quais câmeras e microfones ocultos eram usados para colher registros exclusivos. Prostituição masculina, Santo Daime, surfe ferroviário, Igreja Universal do Reino de Deus (pela primeira vez na TV) e a invasão dos pobres à praia eram alguns dos temas abordados, contrariando os padrões formais dos programas jornalísticos apresentados até então. Não seria exagero afirmar que o Documento Especial inaugurou o moderno jornalismo investigativo na TV, anos mais tarde popularizado por programas como Fantástico, da Globo, e Domingo Espetacular, da Record.

programa sobre a Igreja Universal


Os jornalistas Eduardo Faustini e André Rohde - hoje responsáveis pelas reportagens investigativas da Globo e da Record, respectivamente - fizeram escola no programa. A apresentação memorável ficava a cargo do ator Roberto Maya (hoje na novela Paraíso Tropical, da Globo). Merece destaque também a abertura produzida por Aldir Ribeiro e Wadson Rodrigues, com tema de Alexandre Negreiros.

A Manchete exibiu o Documento Especial de 1989 a 1991. No ano seguinte, o programa passou a ser exibido pelo SBT, onde ficou até 1995. Após um período fora do ar, em 1997 o programa voltou a ser exibido, desta vez pela Bandeirantes. Porém, sem apresentar nenhuma grande reportagem durante a nova fase, o Documento Especial acabou saindo definitivamente do ar antes de completar um ano.

Desde janeiro, no entanto, o Canal Brasil vem exibindo uma seleção com os melhores programas produzidos ao longo dos anos, todas as quintas, às 23h30.

E aqui no Around Venus você pode assistir quando quiser, graças a boa vontade do Danilo, que disponibilizou os programas na íntegra através do YouTube.

Programas separados por temas

- Os pobres vão à praia (SENSACIONAL!)
- Surfe Ferroviário
- Vida de Gordo
- Profissão: prostituto
- Baloeiros
- O pau de Santo Antônio
- O país da impunidade (proibido na época)
- A cultura do ódio (sobre os neonazistas brasileiros)
- Duro é ser gago (com a participação do professor Simon "Boas Falas")
- Na selva, de cabeça feita (sobre o Santo Daime)
- Cinema pornô nacional
- Pichadores
- Madonna: as fronteiras do desejo
- Turismo no Rio

* Bônus *
Entrevista com Nelson Hoineff feita por Sidney Rezende.

* * * *
Não tem nada a ver, mas é interessante também.
Gosta de música? Então se liga no que escrevi aqui.

4.7.07

E VAMO NELSON

Hoje começa a quinta edição da FLIP (Festa Literária Internacional de Parati). Desta vez não pude ir, e cá lamento perder as homenagens a Nelson Rodrigues prometidas para este ano. Naturalmente que isso me faz sugerir uma olhada nesse post, caso você ainda não tenha visto. Se já viu, não custa nada visitar novamente. Afinal, me deu um trabalhão pra mandar tudo pro Youtube, rapaz!

2.7.07

O DEBUT DE SOFIA COPPOLA



A estréia no cinema foi com o delicado "As Virgens Suicidas", de 1999. A consagração veio em 2003, com o oscariado "Lost In Translation". Ano passado, a diretora polemizou com a sua versão de "Maria Antonieta", terceiro longa. Porém, o primeiro trabalho atuando por trás das câmeras como diretora, em cinema, foi o pouco conhecido curta-metragem "Lick The Star", de 1998.

O filme acompanha um grupo de amigas de uma escola primária americana, aficionadas pela controversa novela gótica "Flowers in The Attic", na tentativa de executar um plano "diabólico" para "enfraquecer os meninos" usando arsênico (composto ativo do veneno de rato). Apesar de ter sido filmado com baixo orçamento, "Lick The Star" apresenta soluções estéticas bem interessantes, como a luz estourada combinada com o registro todo feito em P&B. Lance Acord - que, entre outros trabalhos, assinou a fotografia de "Quero ser John Malkovich" e do premiado clipe do Fatboy Slim, "Weapon of Choice", ambos de Spike Jonze - é o responsável pela fotografia do curta. Roman Coppola, irmão de Sofia e diretor de clipes dos Strokes, Daft Punk e Green Day, é seu assistente.