4.2.09

DO OIAPOQUE A TUPI



Você entra no barco, aponta para o horizonte e manda o marujo zarpar oceano afora. Segue a todo vapor, até deixar a costa do Rio de Janeiro 300 km para trás. Lá na beirada onde o sol encontra o mar, pintando de fogo a água azul, você lança um canudo gigante a aproximadamente 7800 metros de profundidade. Vara o leito do oceano, uma camada monumental de sal e mais outra de rocha basáltica. Pronto, você chegou ao maior reservatório de petróleo descoberto no mundo, nos últimos 30 anos. O tão falado pré-sal. Brasileirinho da silva.

No poço, tudo é monumental. A Petrobras, historicamente conservadora e cautelosa na divulgação de suas descobertas, trabalha com a estimativa de 80 bilhões de barris. Medições recentes, no entanto, apontam que o colossal número pode ser ainda superior: 150 bilhões, quase o dobro!

Para se ter uma idéia do volume, a nossa reserva total de petróleo, antes da descoberta, era de "apenas" 10 bilhões de barris. Com o novo reservatório encontrado na Bacia de Santos (até então relegada a segundo plano) o Brasil saltará para o 4° lugar no ranking dos maiores produtores de petróleo do mundo, segundo projeção do Departamento de Energia Americano, ficando atrás apenas da Arábia Saudita, Rússia e EUA.

Ouro negro

De acordo com a Petrobras, a perspectiva de produção, só na área do pré-sal, será de cerca de 1,8 bilhão de barris diários em 2020, o equivalente a quase tudo o que a estatal produziu até hoje, somando todos os seus poços em 50 anos de vida desde que fora criada por Getúlio Vargas. Os números são lindos, mas para se chegar ao ouro negro serão queimados ainda muitos milhares de dólares. O Plano de Negócios para os próximos cinco anos da estatal, divulgado semana passada, prevê US$ 174 milhões de investimentos para começar a exploração comercial da área. Para José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, a crise econômica mundial não afetará a empresa.

Meia verdade

Gabrielli acaba de cortar mais de 100 linhas de celulares usadas, a bel prazer, por funcionários da sede da estatal, localizada na Avenida Chile, no Rio de Janeiro.

A Petrobras também ficará de fora do carnaval este ano, ao contrário de 2008, quando despejou R$ 12 milhões no Sambódromo, torrados em quatro dias de folia. A ordem agora é: nada de samba. Contenção de gastos.

Petrodólares

Entretanto, curiosamente a nossa petroleira, jóia da coroa do império das bananas, pôs fogo em R$ 145 milhões no Fórum Social Mundial, realizado entre janeiro e fevereiro em Belém. O dinheiro público ajudou a patrocinar, entre outras coisas, debate contra os próprios interesses da estatal, realizado pelos "líderes bolivarianos" Hugo Chávez, Fernando Lugo, Rafael Correa e Evo Morales - este último, lembremos sempre, invadiu as duas refinarias da Petrobras na Bolívia, pôs o exército de prontidão e enxotou-nos do país.

Lula não foi convidado para a festa.

É o Brasil brasileiro.

3.2.09

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