FESTA ESTRANHA
Então ela afastou as almofadas e, sem cerimônias, pôs-se ao meu lado. Eu estava sentado em um sofá que cobria de um canto ao outro a sala, o que lhe dava ampla margem de escolha. Mas ela fez questão de colocar-se ao meu lado. Colada. Perna com perna: tremendo, as minhas. Quentes, as dela. Tímido, afastei-me, indo de encontro ao braço do comprido móvel. Era um sofá branco, de material que imitava couro. Um móvel de consultório dentário.
No meio do alarido de pessoas conversando sobre amenidades, entre um canapé de maionese com sardinha e doses de vinho ruim em copo de geléia, ela me dirigiu a palavra. Demonstrando preocupação em limpar uma marca irritante de batom do meu copo, fingi não ouvi-la. Ela, notando que eu não tinha escapatória, chegou seu corpo mais perto:
- Você é famoso?
- Não - e dei um gole profundo no vinho.
- Acho que já te vi na TV. Toca em alguma banda famosa?
- Também não - respondi com a boca ainda cheia.
Um fio de suor gelado desceu da minha testa e se perdeu numa das costeletas. Senti o calor do seu rosto se aproximando do meu, um calor de quem não está com boas intenções. Ela estava a dois dedos de distância da minha boca, e a sua boca trazia a linguinha insinuante entre os dentes como uma serpente pronta para dar o bote. Súbito, fingi que havia caído no sono. Assim, do nada. Sentado mesmo. Ela ficou à espreita, mão na minha perna. Vencida pelo cansaço, desistiu. Respirei aliviado. Era feia.
5 comentários:
Depois, reclama!
Mas pelo teu pânico, a garota devia ser um dragão MESMO, hein?
O mais legal é que assisti a essa cena.
A mina não era tão feia assim...rs
é, concordo c a lia.
que situação...
Feia, devia ser a encarnação do anti-cristo pela descrição :)
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