11.2.06

O PÂNICO DOS AMERICANOS

Ele é conhecido como “O Rei de Todas as Mídias”. Começou a sua carreira no rádio há quase 30 anos e, desde então, é seguido por uma legião de adoradores de fazer inveja a muitas estrelas de Hollywood. Da mesma forma que agrega em torno de si um número impressionante de fãs ardorosos, é odiado com igual intensidade por uma parcela da população. É considerado o segundo melhor apresentador de talk show de todos os tempos e sua estréia, no final da década de 70, é considerada um divisor de águas na história do rádio. Como se não bastasse, ainda ostenta a posição confortável de ser umas das personalidades mais bem pagas do seu país. Ironicamente também ostenta o título de apresentador mais multado pelos órgãos fiscalizadores em toda a história das transmissões radiofônicas. Pelo seu programa já passou uma constelação de estrelas de Hollywood, bem como celebridades de outras áreas. Mas o que ele gosta mesmo é de receber em seu estúdio atrizes pornôs, especialmente se forem lésbicas. De Jenna Jameson (uma das mais bem pagas atrizes pornôs dos EUA) a George Pataki (governador de NY), todos o respeitam. Sem mencionar John Kennedy Jr. que, quando vivo, era habitué do seu programa.

Seu nome?
Howard Stern.

Um judeu de 52 anos.
Americano.
Um fenômeno.

Mas ao contrário do que seu nome sugere, ele nada tem a ver com a cadeia de joalherias brasileira. Seu negócio é outro: rádio. Anárquico. Provocativo. Debochado. Hilário.

Porém, mesmo sendo responsável por apresentar uma proposta inovadora de programa, romper paradigmas há muito estabelecidos no rádio e, de quebra, antecipar involuntariamente a febre dos “reality shows” (ele tem como característica se expor e expor seus convidados), o radialista é um notório desconhecido no Brasil. Mas não por todos: o pessoal do Pânico tem em Howard Stern a sua maior fonte de inspiração. Sem o radialista americano nunca existiria o famoso programa da Jovem Pan.

Mas quem diabos é afinal esse cara?

Stern começou a sua carreira no rádio ainda na universidade, quando apresentava o programa "King Schmaltz Bagel Hour" na college radio da Boston University, na década de 70. Porém seu programa foi considerado muito anárquico e de difícil aceitação, o que levou a universidade a tirá-lo do ar. Recém graduado, começou a trabalhar em estações de segunda linha. Seu talento, mesmo atuando em pequenas rádios, pôde ser comprovado com a audiência que conseguia alcançar, o que lhe rendeu a fama de Midas, já que quando entrava em uma estação em crise, em pouco tempo a colocava em primeiro lugar.

O radialista ganhou definitivamente as manchetes dos jornais quando, ainda na década de 80, ligou para autoridades japonesas pedindo, no ar, a libertação do ex-Beatle Paul McCartney da prisão (Paul havia sido preso no Japão portando maconha, onde passara nove dias no cárcere). Outro fato que o levou às manchetes se deve ao episódio em que, logo após o massacre ocorrido na Columbine High School, em 1999, questionou em seu programa: “Esses garotos não tentaram fazer sexo com as meninas antes de matá-las? Já que você vai matar todo o mundo e depois se suicidar, por que não sai transando com as gatinhas antes? Se fosse eu, comeria todas!”. A atitude lhe rendeu pesadas críticas e seu programa foi censurado no Colorado. Mesmo assim, ele nunca se desculpou.

Entretanto, apesar do ato “não patriótico” e “irresponsável” revelado pelo episódio envolvendo o massacre, o radialista teve grande destaque positivo na época dos atentados de 11 de setembro de 2001. Enquanto a maioria dos profissionais de comunicação, amedrontados, evacuaram a cidade de Nova Iorque, Howard Stern e a sua equipe permaneceram em Manhattan transmitindo ao vivo os acontecimentos no calor dos fatos (sua cobertura, considerada a única fonte de informação sobre os atentados para grande parte da Costa Leste americana na época, pode ser baixada aqui).

Porém isso não o redimiu perante aos seus mais ferrenhos críticos – a classe conservadora americana. Após passar anos sofrendo com cortes e pesadas multas de órgãos como o FCC (Comissão Federal de Comunicação, na sigla em inglês), no final do ano passado Stern foi finalmente retirado do ar.

Dos tempos obscuros em rádios desconhecidas até chegar a uma audiência fiel de mais de 25 milhões de ouvintes diariamente, ele sempre trilhou um caminho fiel ao seu público. E esta fidelidade o recompensou com o sucesso em outros meios, tais como literário (através da publicação da sua autobiografia “Private Parts”), televisivo (Howard Stern Radio Show, exibido pelo E!) e cinematográfico (adaptação da sua autobiografia para o cinema).

Contudo, desacreditado com as FMs, o radialista pensou em se aposentar. Porém uma proposta ousada o faria abandonar a idéia. Em 2005 uma rádio via satélite (Sirius) ofereceu-lhe 500 milhões de dólares (!) por um contrato de 5 anos. Apesar da pequena audiência da rádio, em torno de 600 mil assinantes, Stern topou o desafio. E mais uma vez seu toque de Midas foi confirmado. A partir do anúncio feito pela companhia a respeito da nova contratação, o número de assinaturas saltou chegando a impressionantes 3.3 milhões, antes mesmo que o seu programa entrasse oficialmente no ar (o que só seria possível em 2006, devido ao contrato anterior). O fenômeno Howard Stern pôde ser sentido no Natal de 2005, quando os receptores da Sirius sumiram das prateleiras devido à grande demanda (havia filas de mais de nove horas para se conseguir um!), batendo pela primeira vez na história as vendas do iPod, que perdeu a posição para os aparelho da Sirius.

Mas a expectativa de voltar a ouvir o polêmico e controverso radialista só acabou no dia nove de janeiro de 2006, quando finalmente seu programa entrou no ar via satélite. A equipe continuou a mesma, com a adição de um novo membro: o hilário George Takei, ator que interpretou o capitão Sulu na cultuada série Star Trek, recém "saído do ármario" e que, no Howard Stern Show, faz as vezes de locutor oficial.

No último dia nove o programa completou um mês no ar com uma audiência batendo os 3 milhões de ouvintes. É pouco para um radialista com quase 30 anos de profissão, cuja voz já fora transmitida para mais de 20 milhões pessoas. Porém a decisão de Stern em pisar neste novíssimo território do rádio via satélite – proposta semelhante à das TVs por assinatura, onde a pessoa paga pelo acesso aos canais – representou mais um marco na história. E a sua influência já pode ser sentida. Recentemente a concorrente XM anunciou um contrato milionário (U$55 milhões) com Oprah Winfrey, numa tentativa de conter o avanço da Sirius.

A revolução já começou. A corrida pela conquista de mais esse território está a todo o vapor. A contratação de Stern entrou para as páginas da história dos meios de comunicação. Os carros americanos já estão substituindo os rádios tradicionais por receptores via satélite. Não se fala sobre outra coisa nos EUA...

Enquanto isso, no Brasil, nem uma linha sequer na imprensa.

Como diria George Takei: "Oh, my!"

Mas fã do radialista desde meu tempo de exílio além-mar, escrevo esse post como tributo pelas horas proporcionadas de programação hilária, que escuto diariamente em meu discman.



* para baixar os programas é necessário ter instalado o BitComet (2.81MB, gratuito).

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