31.3.07


Ilustres desconhecidos, Arnaldo Baptista, Sergio Dias e Rita Lee lutavam contra as mais diversas dificuldades para tocar no underground quando Ronnie Von os convidou para participar da estréia do seu programa na TV Record, em 1966. "O Pequeno Mundo de Ronnie Von", exibido nas tardes de sábado, funcionava como uma alternativa ao bem sucedido "Jovem Guarda", apresentado por Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos aos domingos na mesma emissora. Enquanto o programa do Rei exibia artistas já consagrados como Rosemary, Jerry Adriani e Wanderley Cardoso, o do Pequeno Príncipe investia principalmente em grupos de garagem pouco conhecidos da grande massa.

Pelo seu programa passaram inúmeras bandas alternativas do cenário paulista, como a mítica Os Baobás, responsável por antecipar aos brasileiros a música "Light My Fire", do The Doors, numa gravação que contou com Liminha (futuro Mutantes) no baixo. Porém a mais famosa participação é creditada aos Mutantes. Foi no "Pequeno Mundo..." que o trio liderado por Rita Lee se apresentou pela primeira vez. Os três ainda eram conhecidos pela alcunha de O Konjunto quando Ronnie sugeriu a troca do nome para Os Mutantes, em alusão ao livro “O Império dos Mutantes” (La Mort Vivant), do francês Stefan Wul. Fãs de ficção científica, Sérgio e Arnaldo não pensaram duas vezes e, junto com Rita Lee, adotaram definitivamente o nome. Foi o cantor, ainda, quem os apresentou a Gilberto Gil e a Caetano Veloso. Graças ao encontro, Os Mutantes foram parar no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, onde, ao lado de Gil,
defenderam a canção "Domingo no Parque", considerada o pontapé inicial do Tropicalismo.

Uma tremenda anarquia

Mas a importância de Ronnie Von vai além. O cantor foi responsável por uma das mais ousadas séries de registros musicais da história fonográfica nacional. Entre 1966 e 1972, resolveu se aventurar pelo universo até então obscuro do psicodelismo e, antes mesmo do Pink Floyd, flertou com o rock progressivo. Durante o período, o cantor trabalhou com os maestros concretistas Rogério Duprat (responsável pelos arranjos do histórico "Tropicália ou Panis et Circensis", além de álbuns dos Mutantes, entre outros) e Damiano Cozzela (um dos arranjadores do primeiro disco de Caetano Veloso). Desta fase de ebulição artística saíram os clássicos álbuns Ronnie Von nº3 (1967), Ronnie Von (1968), A Misteriosa Luta do Reino do Parassempre Contra o Império do Nuncamais (1969), Minha Máquina Voadora (1970) e Ronnie Von (1972). As gravações contaram com diversas participações especiais, dentre elas Os Mutantes e os Beat Boys, no disco Ronnie Von nº3, arranjado por Rogério Duprat; e a banda B-612, no disco de 1968, o mais radical e inovador de toda a sua obra, arranjado por Damiano Cozzela.

Em sintonia com a vanguarda européia, Ronnie Von trocou uma carreira marcada por sucessos fáceis, como o hit açucarado "A Praça", por um mergulho no desconhecido. O betlemaníaco apostou a carreira e amargou, por incompreensão do público, um lastimável período de ostracismo. Com o passar dos anos a sua fase psicodélica foi sendo esquecida, dando espaço para a imagem do Ronnie Von careta, do pequeno Príncipe adorado por Hebe Camargo.

Durante quase 30 anos estes discos ficaram esquecidos nos catálogos das gravadoras, sem que houvesse interesse em relançá-los em cd. Magoado, o prórpio Ronnie Von evitava falar sobre os álbuns. Paralelamente, cópias dos LPs - originais e piratas - eram disputadas a preço de ouro por colecionadores, sobretudo do clássico álbum de 1968. A nova gereção, aos poucos, ia redescobrindo a obra do mestre.

Todo seu

A fim de colocar Ronnie Von em seu devido lugar na história, a jornalista Flávia Durante mergulhou fundo na fase psicodélica do cantor e idealizou um tributo em sua homenagem, reunindo 30 bandas do cenário alternativo nacional. A idéia surgiu numa comunidade do Orkut, em 2004, e levou três longos anos para se transformar no CD duplo "Tudo de Novo, Tributo ao Ronnie Von" que acaba de ser lançado de forma independente. O primeiro volume é uma releitura na íntegra do álbum de 1968, com destaque para as versões de "Espelhos Quebrados" (Rádio de Outono), "Meu Cantar" (Ovni), "Anarquia" (Detetives) e "Mil Novecentos e Além" (Cactus Cream). O segundo traz 18 canções retiradas dos discos lançados entre 1966 e 72. Os destaques são: "Meu Bem" (Os Insertos), "Menina Azul" (Pato Dvorak), "Pra Chatear" (Astronauta Pinguim) e "Águas de Sempre" (Batucada Valvulada).

O Tributo pode ser baixado gratuitamente através do site oficial do projeto. Por coicidência, no dia 23 de abril chega às lojas os álbums Ronnie Von (1966), Ronnie Von (1968) e Minha Máquina Voadora (1970), relançados pela Universal via Astronauta Discos.

Uma última curiosidade: a maioria das letras lisérgicas do período foi composta por Arnaldo Saccomani, produtor conhecido hoje popularmente como "o jurado do Ídolos".

* * * *
Mais sobre o disco original de 1968:

Faixa a faixa comentada por Marcelo Birck, ex-Graforréia Xilarmônica.
Entrevista com Zé Guilherme, guitarrista responsável pelos riffs do disco.
Silvia 20 horas Domingo, versão do Vídeo Hits com a participação do próprio Ronnie Von.
Discografia.

27.3.07

SULLIVAN BAND

Quinn não perde tempo com bobagem. Na vitrola, só músicos do quilate de Eric Clapton, Jimi Hendrix, Richie Valens e Buddy Holly. Conhece suas obras a fundo. É fã incondicional dos Beatles e adora B.B. King. Além dos guitar heroes, tem seus heróis do quadrinho também. Nada de Batman e Robin. Quinn gosta mesmo é de Bob Esponja e Jimmy Neutron, os enlouquecidos cartuns. Seu bom gosto se estende ao cinema, e pode ser confirmado na preferência por longas como Edward Mãos de Tesoura e Tubarão. Além disso, gosta de musicais adolescentes como o High School Musical, da Disney.

Nascido em New Bedford, Massachusetts, Quinn Sullivan tem somente SETE ANOS e, apesar da pouca idade, é frontman da banda que leva o seu nome. É a única criança. Na guitarra, instrumento que aprendeu a tocar aos TRÊS anos, derruba queixos por onde passa. É um moelque e tanto, e um filho que qualquer pai rocker gostaria de ter!

Abaixo, dando show em "While My Guitar Gently Weeps", dos Beatles:




Veja ainda Quinn destruindo no programa da Ellen DeGeneres.

* * * *
Michael (outro moleque) tocando "Crazy Train", do Ozzy Osbourne, cheio de pose de metaleiro no alto dos seus SEIS anos, também vale os minutos no Youtube.

23.3.07

Guinga de bamba

Num pique de menino, Guinga corre do calçadão da praia do Leblon até a beira do mar em poucos segundos,debaixo de um sol escaldante de domingo. Cansados só de olhar, tentamos acompanhá-lo. Em vão, seu ritmo não é para amadores. Morremos na praia. Alguns minutos depois, o músico sai do mar e pergunta ao fotógrafo: “Pode tirar foto assim, sem camisa?” Pode sim. Alguns cliques, e ele segue para uma série nas barras paralelas, parte de sua rotina. Guinga é um sujeito simples e é também um grande sujeito.

Guinga acaba de lançar o seu oitavo CD, "Casa de Villa", o primeiro pela gravadora Biscoito Fino. Antes de partir para uma série de shows no Brasil e no exterior, o músico e compositor nos recebeu para bater um papo, num belo dia de céu azul no Leblon. Abaixo, reproduzo um trecho desta surpreendente conversa:


Como você conheceu o Cartola?
Em 1973 existia um teatro aqui em Ipanema que se chamava Teatro Santa Rosa. Nessa época, eu fui contratarado para ser músico num show chamado “Vem quem tem, vem quem não tem”, que reunia Joel do Bandolim, João Nogueira e o Roberto Nascimento, um compositor brasileiro que agora está fora do Brasil. Eu nem sabia que o Cartola participava do show. Logo no primeiro ensaio, ele apareceu com o seu violãozinho e começamos a tocar. Eu aprendi as músicas dele e comecei a acompanhá-lo ao violão durante o espetáculo. Foram três canções, “Acontece” era uma delas: “acontece que nosso amor…”[cantarola]. Ele adorou o acompanhamento.

A gente observa que não há muitos sambas na sua discografia. Por quê?
Eu tenho uns quatro ou cinco. Nunca fui sambista, mas acho que os sambas que fiz saíram direito. Eu acho que tenho medo, tenho respeito. Mas o samba está na minha alma.Veja, eu era muito amigo do Candeia, ia na casa dele todo dia. Quer ver uma coisa engraçada? Quando se fala em raiz, sempre citam o seu nome, não é? Mas você sabe o que o Candeia gostava muito de ouvir? Aquela “Take five”, do Dave Brubeck. Ele era maluco por essa música. O cara pode ter um estilo, mas ele é influenciado por tudo que está aí. Você não pode restringir seu universo.

A matéria completa, feita para o blog O Samba, você confere aqui.

20.3.07

SIMPLES E CASUAL

Hoje o homem ideal é aquele que sabe configurar um roteador e instalar uma conexão à internet sem fio na casa de uma mulher.

Físico e matemático, o americano Ricky Montalvo tem um belo emprego no Vale do Silício, reduto de empresas de tecnologia dos EUA, casa da Apple e do Google. Viciado em gadgets eletrônicos, criou o termo "technossexual" para designar aqueles que cultivam o mesmo estilo de vida que leva. O rapaz deixa claro, porém, que o termo não tem nada a ver com o desgastado "metrossexual". Segundo Ricky, homens não têm gastos com acessórios e jóias como as mulheres e, por isso, estão livres para gastar fortunas com todo o tipo de produtos eletrônicos que sejam atraentes. Uma das marcas do "technosexual" é ter sempre uma "messenger bag" atravessada no peito. Ele lembra que o visual e os equipamentos do "technossexual" devem ser minimalistas. Nada de excessos. iPod, saca?

Veja a matéria sobre o tema que saiu na NBC News.

Se você só sabe trocar lâmpadas e abrir potes de geléia, tá na hora de se reciclar.

Pra você que se animou, segue o bônus:

Liçõe do Geek Kama Sutra.
O fantástico guia do sexo NASAL.

Tá no esquema? Então agora é só dar um pulo aqui e pegar geral!


Claro que os americanos já estão caindo em cima desses novos "sexuais". Para os mais perversos, technossexual é o sujeito que só consegue arrumar namoradas com nomes terminados em .jpeg.

A propósito, eu sei montar uma rede interna sem fio. Mas eu gosto mermo é de mulé.

17.3.07

RASGANDO SEDA

Villa-Lobos, Pixinguinha, Tom Jobim e Guinga. Nessa ordem.

Hoje, é o maior e mais importante compositor brasileiro vivo.

"Caras como o Guinga só aparecem a cada cem anos, temos que aproveitar isso."

Não sou eu quem diz. É o Hermeto Paschoal.

E tantos outros.

Não estamos aproveitando.

Não espere pelos próximos 100 anos.


Abaixo reproduzo uma estrofe recheada de referências de "Rasgando Seda". A letra é de Simone Guimarães. O disco é "Noturno Copacabana", de 2003. Altamente recomendado pelo blog, assim como toda a obra do mestre. A música você baixa aqui. O disco você compra na loja.

És Sapoti no canto doce da Jurema
um samba de Orly com Canhoto em Ipanema
Brasileirinho já do alto da montanha
chamando Maomé para o canto de ossanha
em quais noturnas te anuvias
e como faz nas noites frias
que toda legião dos Iorubás proteja tua canção

* * *
Mais, em breve.

15.3.07

BANDA DA BUNDA

A noite era de um festival carioca de bandas, daquelas que dão o sangue para fazer shows e ralam como condenadas atrás de um bom contrato. O grupo que conseguisse vencer todas as etapas, ganharia, como de praxe, o tão sonhado contrato. Olhos atentos, Jurados não davam moleza. Ali, caneta e papel nas mãos, eram senhores do destino, poderosos Delfos pós-modernos.

Quebrando o protocolo, sentavam juntos, sorvendo chopes com a sede de três oceanos. Batatinhas, feijão amigo, calabresa... muitos snacks, enfim. Conversavam de maneira efusiva sobre todos os assuntos. Das bandas, falavam pouco. Escreviam bastante, pois. Uma listinha que ia pra lá e pra cá. E caiu em minhas mãos. Enquanto um grupo liderado por uma gostosa se esforçava para parecer original no palco - o que estava longe de acontecer - dei-me conta de que a lista, que deveria servir de guia para votação, havia se transformado num "chat" rudimentar, onde jurados discutiam os atributos físicos da pequena exagerada com o microfone na boca. A banda, não sei; mas a bunda agradou. A mulé levou 10.

14.3.07

TOMEI

H2OH! é Sprite sem gás.

E não se fala mais nisso.

13.3.07

PODERIA SER PIOR
Não conhecia o som e, por conta do hype que girava em torno dos caras, já não gostava de antemão. Dia desses, zapeando no remoto, caí no clipe de Destroy Everything You Touch. Pulei pro Youtube e catei mais uma penca de vídeos. Achei Playgirl bem bacana, tanto o vídeo quanto a música me lembraram um pouco Stereolab (um sub-stereolab). A música tem um quê de New Order também. A vocalista lembra a Chloe Sevigny no filme Kids.

Uma gatinha. E que olhão!

Até que esse Ladytron não é de todo ruim, hein. Mas sublinho que não gostei de tudo, e continuo achando esse hype em torno deles uma palhaçada. Afinal, tem gente pra dedéu que já fez som parecido. Não é a salvação MERMO.

* * * *
Assistindo em loop ao Playgirl. Daqui a pouco enjôo pra sempre.

8.3.07

MELOU

Não sairá mais pela Sony-BMG o aguardado "Chega de Falsas Promessas", novo álbum da Canastra, uma das bandas mais criativas que surgiram no cenáro nacional nos últimos muitos anos. Vencedor do festival Oi Tem Peixe na Rede, organizado por Bruno Levinson (Humaitá pra Peixe), o grupo ganhou um contrato com a major em 2005 e acabou sendo colocado na geladeira, o que provocou o recente rompimento com a gravadora.

Tudo resolvido, o disco finalmente sairá encartado na próxima edição da REVISTA OUTRACOISA, que deve chegar às bancas em maio, como antecipado ao blog. Produzido por Alexandre Kassin e Berna Ceppas, o novo trabalho conta ainda com a participação de luxo do lendário Lafayette, tecladisca de Roberto Carlos fase Jovem Guarda. Fino!

Ganhou a Outracoisa. Ganhamos nós.

Salve os Canastras!

7.3.07

ROSA AOS AMIGOS

Como o resgistro do Bando de Tangarás agradou bastante, resolvi disponibilizar a música para o leitor amigo do Around Venus. Ripei-a diretamanet do vídeo, já que a música - rara como este - não corre pelos soulseeks da vida. Esta versão, acredito eu, é a única em mp3 disponível na net. Agora é só chamar no download e mandar pros amigos e inimigos. Eles merecem Noel.


Segue a divertida letra:


Quando nós saimos do norte
Foi pra no mundo mostrar
Como canta aqui nesta terra
Um bando de tangarás

Uma madama pra fazer economia comprou as perfumarias
Num tutu que ela encontrou, saiu pra rua perfumada
Em todo canto, o perfume fedeu tanto
Que a madama desmaiou, ai
Ref.
Meu tangará meu curió Meu terra-a-terra
E o meu canário da terra que é danado pra cantar
Eu também canto uma semana um mês inteiro
E quando eu canto no terreiro inté a lua quer sambar, ai
Ref.
Eu fui fazer minha compra na feira
Eu vi tanta roubalheira de se encabular
Tava um sujeito de roubar com uma tal febre
Vendendo gato por lebre ratazana por gambá, ai,
Ref.
Na sepultura que eu fiz pra minha família
Tinha um freguês por dia para se enterrar
Na minha vez quando eu cheguei ao pé da cova
Apesar de ela ser nova já não tinha mais lugar, ai,
Ref.
E lá no norte quando á boa a brincadeira
Lá tem bala e tem madeira, tem tabefe tem punhá
Mas eu não temo nem cacete e nem garrucha
Levei dez tiros na fuça e depois disso eu fui sambar, ai
Ref.
Dei um emprego ao filho do Zacaria
Só das onze ao meio dia que tinha que trabalhar
Mas o malandro pegar peso não podia
Além disso inda queria hora e meia pra almocar, ai,
Ref.

4.3.07

VAMOS FALLÁ DO NORTE

Ele era o mais introspectivo nas rodas. Era mais ele, o mais pessoal. Imagine que, em 1933, a gente saía do centro, tantas noites, e tocava de volta para Vila Isabel a pé, apreciando a noite. Vinhamos de papo. A gente, que eu digo, era o pessoal de jornal e de samba, como o Sílvio Fonseca, o Orestes... Ele nos acompanhava atrás, quieto, mirrado, mas na escuta. Uma dessas noites, Orestes Barbosa desandou pelo caminho a descer o pau na adulteração das coisas Brasileiras, na entrada dos costumes estrageiros, na desvalorização da nossa própria linguagem. E por aí, exaltado como Orestes era. Dias depois, ele me chama na rua; 'Olhe aqui, ô Nássara, esse sujeitinho é um danado, ele é o maior poeta popular do Brasil. Ouve só esses dois versos: Tudo aquilo que o malandro pronuncia, com voz macia / É brasileiro, já passou de português.


Antônio Nássara, jornalista, cartunista de afiada pena, malandro carioca, pai da marchinha Alalaô e de muitos sambas, em declaração sobre Noel Rosa retirada da coleção Literatura Comentada (Nova Cultural, 1988). Os versos destacados por Orestes Brabosa são de "Não tem tradução", samba de 1934 cuja letra faz uma crítica à influência do cinema falado no linguajar brasilero.

Noel começou a carreira no Bando de Tangarás, grupo formado por Almirante, Braguinha (João de Barro), Alvinho e Henrique Brito, em 1929. O compositor ia em 18 anos quando se juntou à turma. Era o mais jovem dos cinco músicos. Apesar da tenra idade, já gozava da fama de excelente violonista no bairro de Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro. Importante dizer que desde os catorze anos, pelo menos, freqüentava a boemia carioca. Começou tocando bandolim, ensinado por sua mãe, e passou ao violão, instrumento de seu pai. Um talento e tanto nas cordas. Com o Bando, ainda em 29, apresentou ao público "Na Pavuna", primeiro samba gravado com instrumentos de percussão e o preferido do carnaval de 1930.

Neste vídeo raro, Noel, Braguinha, Almirante, Alvinho e Henrique Brito tocam em "Vamos Fallá do Norte". Atenção a Noel Rosa afinando o violão no meio da música. Almirante é quem canta. O registro é de verter lágrima.

Em tempo: Tangará é o nome de um pássaro alegre e de canto muito bonito que, em grupo de cinco, costuma se reunir para cantar e dançar. A lenda diz que seu canto é tão melodioso que quando ele começa a cantar, os outros pássaros param para ouvi-lo.

2.3.07

BEBER SEM FIM

Se você frequenta a internet, é bem provável que já tenha ouvido falar na Bruna Beber. Se fica nos jornais, dos tradicionais, aqueles de papel mesmo, também. Bruna já frequentou d'O Dia ao Globo; do Jornal do Brasil ao Pequeno. Mas você não lê jornais, esse negócio da elite dominate que serve pra manipular as pessoas e aniquilar o sentimento revolucionário, né? "Eu não gosto de nada disso!" e, bufando, olhos vermelhos de sangue, a espuma branca no canto da boca, você começa a achar o post muito enjoado; setinha do mouse nervosa pronta pra fechá-lo. O seu negócio é sair pra ver o sol, é zoar. É mergulhar fundo no escuro da noite, se perder na Lapa de ninguém. Pé na Jaca. Mesa de bar, buati, pegação. Cana. É jogar Conversa fora, perdigotos ao leu.

Rapaz, então tá na hora de conhecê-la.

Aos 23 anos, Bruna Beber é uma das escritoras mais festejadas da atualidade. Autora do aclamado "A fila sem fim dos demônios descontentes" (7Letras), é dona de uma deliciosa ironia, além de parecer não se levar muito a sério. Parece, apenas. Quer escrever - e o faz magnificamente - e publicar com a pressa que a inspiração exige. Não desperdiça palavras, constrói poesias como quem anda sobre notas musicais. Aliás, música "é o que inspira cem porcento do que eu faço e escrevo", confidencia. Suas influências musicais vão de Tom Waits a Elizeth Cardoso. Gosta de música contemporânea também, como Erik Satie. As literárias são várias, com grande margem para as produções masculinas. Curiosamente, ao contrário de muitas mulheres, tem certa aversão à Clarice Lispector. Sua justificativa, porém, faz sentido, como explicou em recente entrevista ao Portal 21.

-Hoje em dia toda escritora quer ser Clarice. Não dá, não precisa. Lá em casa tem todos os livros dela, mas estou aguardando o momento para começar.

A escritora faz sucesso não é de hoje. Poetaholic, há cinco anos vem publicando seu trabalho na internet. Bruna é mais uma egressa dos blogs, essa ferramenta ainda subvalorizada na colônia. Mas foi a partir da publicação de "A fila...", em dezembro, que passou a ocupar lugar de destaque entre os novos escritores. Se você ainda não a conhece, recomendo assistir hoje ao programa Re[corte] Cultural, da TVE. Beber estará no quadro "Debatedeira", no qual será entrevistada por Michel Melamed. O Recorte começa às 20h.

* * * *
Acho o programa muito "pós-moderno" pra minha paciência. Fragmentado demais. Melamed não economiza nos gestos, vício adquirido no teatro. Mas as entrevistas até que rendem. Veremos essa.

* * * *
Imagens românticas do Brasil irão preencher seus pensamentos assim que as melodias clássicas da flauta de Pixinguinha tocarem seus ouvidos. Eu não podia deixar passar batido a nota sobre Pixinguinha, que saiu hoje na primeira página do site da National Geografic. A nota, na íntegra, está aqui. Obrigado pela dica, Bruno (neste caso é BrunO mermo, Villas-Bôas ainda).