31.10.06

ACHARAM O DEDO
A dúzia de rosas contra o peito e o senhorzinho, cabelos brancos de algodão, vence o último degrau que leva ao segundo andar da barca. Bufa, retoma o fôlego e brada: "As flores são para o enterro do Brasil". Um pigarro de saltar o gogó, vai até o meio do salão e lasca outra: "Encontraram o dedo do Lula! Sabe onde? Enfiado no cu do Brasil. Viva a democracia!" Um rapaz, envelope pardo sobre as pernas cruzadas (um curriculum vitae?), reforça: "Viva! Viva!". O senhorzinho senta no primeiro banco vago e, antes de tombar dormindo, lamenta: "Falta um Castelo Branco, um Carlos Lacerda..." A barca dá três apitos roucos e segue em direção ao Rio de Janeiro, boiando errante feito uma rolha ordinária. Incômoda sensasão de metáfora do Brasil.

28.10.06

O ANIVERSÁRIO DE BJÖRK


Que New Order nada. Show do ano (dos últimos muitos anos, arriscaria) acontece dia 17 de novembro, quando o SUGARCUBES sobe ao palco em sua formação original após um hiato de 14 anos longe da ribalta. Ora, mas por que diabos esse show é tão esperado? Porque o Sugarcubes, além de ter sido uma das bandas independentes mais importantes da década de 80, apresentou Björk ao mundo e influenciou meio globo com suas composições. A reunião acontece em Reykjavik, na Islândia, em comemoração aos 20 anos do lançamento de "Birthday", primeiro single do grupo. A Icelandair está oferecendo pacotes a partir de US$ 699 que incluem passagens aéreas, hotel, café da manhã, transporte e, claro, ingressos. Porém todos os vôos partem dos EUA. Quem preferir comprar pelo eBay, no entanto, deve correr, pois há apenas dois ingressos disponíveis no site. Mas a notícia ruim mesmo (ou até boa, dependendo do ponto de vista) é que a banda não planeja a volta definitiva aos palcos. Trata-se de uma comemoração especial, um show limitado a 5 mil pagantes apenas. Claro que Björk participará. Formação ORIGINAL, meu chapa. Finesse pura.

Para entrar no clima, toma aí o documentário "Inside Björk"

27.10.06

MISSÃO
O véio embarca em breve. Primeiro Argentina, depois África. Vai para Angola, Luanda e, acho, África do Sul. Se não confundi os países, já é a segunda vez esse ano. Segue, caderneta e lápis no bolso, em missão antropológica. De lá, parte para o Velho Continente. Paris. Antes, talvez, Lisboa; mas tenta evitar. Não gosta da cidade. Tirando a culinária, Portugal não lhe enche os olhos. Na suíça, há uns anos, pôs o pé e voltou. No mesmo dia. No mesmo trem. Não trouxe chocolates. Queijos? Negativo também. Só uma cara emburrada, alguns palavrões e o saco cheio. Nunca mais falou no país.

É mesmo da França que gosta. Adora Paris, diz que é sua segunda casa. Conhece do mendigo que vive ajoelhado no Boulevard Saint Germain aos intelectuais da Sorbonne. Mas é com gente como o coveiro do Père Lachaise que mais gosta de conversar. Perde a conta dos "bonjour" que solta pela cidade - e dos que recebe. Conhece mais gente lá do que eu cá. Tem cara de poucos amigos. Faz gênero, adora conversar fiado. Tem fascínio pelas pessoas, o bloquinho sempre à mão. Numa tarde, descendo a Rue de Belleville, discutiu com o garçom - um marroquino tão intolerante quanto um motorista de ônibus do Rio. Dedo na cara. Palavrão. Eu no meio. Uma cena. Motivo: um "croc messieur", o misto quente francês, que ele insistia em não querer trazer para mim. Insultos em quatro idiomas depois, o antropólogo e o garçom trocaram telefones. O jovem adorava o Brasil e, entre um "croc" e outro, juntava dinheiro para abrir uma pousada em Paraty. Com o árabe da "Epicerie Le Caire" (espécie de Casas Pedro parisiense) foi a mesma coisa. Mas a briga se deu pela proibição de me deixar filmar a fachada da sua loja. Hoje são amigos. Ao meu pai, sempre pergunta por mim. Devo-lhe uma visita. Saudade das castanhas.

Quando o antropólogo disse que ia para a África, perguntei que vacinas eu tinha de tomar. Desconversou. Gosta de viajar sozinho. Filhos enchem o saco, uma dor de cabeça danada.

24.10.06

ODE AO RIO / O DIARIO / O DIA RIO

Táticas de guerra na Tijuca
Bandidos explodem granada em Caxias
Colisão na Baía

Impostos

Medalha por tiro em ladrão
Gari imprensado
Corpos no lixo

Impostos

Guerra do tráfico
Atraso na entrega
Menina morre de catapora

Impostos

e na seção que já faz o esquenta para o carnaval 2007:

Imperatriz recupera a sua voz

Impostos

A editoria
Rio, do Jornal O Dia, é pura poesia.

O LADO IRÔNICO DA VIDA
Acidente de trânsito matou ontem o artista plástico e grafiteiro Eloy de Oliveira, o You Too, 34 anos, morador da Favela da Rocinha. Ele dirigia a sua motocicleta Honda, em São Conrado, quando, em alta velocidade, perdeu a direção e se chocou contra um poste na rua AQUARELA DO BRASIL.

Tá lá em Geral, pg. 06, na edição (em papel) do jornal O Dia de hoje.

20.10.06

THE BURG



Gostou? Então saiba mais no novo post.

18.10.06

O SUCESSO
Festa Ploc chega a dar azia. Eita. É brabo. Mas se existe algo relacionado aos anos 80 de que não canso são os comerciais do Hollywood. Acho que não há nada que represente melhor a "década perdida" que as propagandas altamente produzidas do cigarro. Era impossível não parar diante da TV para assisti-las, sempre com temas que giravam em torno da tríade liberdade, aventura e amizade. Os filmes eram um deslumbre só, e traziam para dentro das nossas casas os mais diversos (e modernos) esportes radicais da época. E que sonzeira tinham! Hard Rock de fazer um moleque de canela fina como eu achar que era gente. Vozes dobradas, roucas, muito reverb, batera virtuosa, teclados DX7 e aquela guitarrada clássica. Dê um passo à frente quem, em menino, nunca SONHOU em FUMAR um maço inteiro de Hollywood por conta das propagandas. Fumei muito Segundo Caderno do Globo, posto que em casa a coroa não dava sopa com cigarro. Uma fumaça preta danada! Hoje não fumo nem orégano. Odeio cigarro. Odeio fumaça.

Mas continuo aficionado pelas propagandas do Hollywood.

16.10.06

. . .
O aviso da vida
Passa a noite inteira dentro do meu quarto
Piscando o olho.
Diz que vigia o meu sono
Lá da escuridão dos mares
E que me pajeia até o sol chegar.
Por isso grita em cores
Sobre meu corpo adormecido ou
Dividindo em compassos coloridos
As minhas longas insônias.
Branco
Vermelho
Branco
Vermelho
O farol é como a vida
Nunca me disse: Verde.

Adalgisa Nery
Poema ao Farol da Ilha Rasa In: Mundos Oscilantes - Poesias Completas
José Olympio, Rio de Janeiro, 1962.

Recomendo.

14.10.06

ROLLING ON FLOOR LAUGHING MY ASS OFF
Vocês estão acompanhando O Proxeneta, 'novela' que estrou essa semana na TV? O que é a abertura, bicho? De uma kitschice, só. Hans Donner at its best! Perdeu algum capítulo? Então se joga aqui, ném.

Vai me desculpar, mas a boquinha de coelhinho do Casseta & Planeta já murchou faz tempo. O humor dos caras não dá mais nem pro café.

Por isso insisto que é cada vez mais necessário assistir ao Away de Petrópolis dissertando sobre os assuntos da ordem do dia. Não tem caô. Tem que passá lambida no pescoço de geral MERMO.

12.10.06

VAMU COMPRÁ, PORRA
Uma barriga peluda de nove meses, o umbigo pra fora acusando a hérnia em menino, o suor escorrendo do rosto formando uma lama cinza no pescoço, e o rapaz não pára de gritar para aqueles que se esbarram feito formigas sob um teto de zinco quente: "Vamu comprá! Vamu gastá, gente! Vamu andá que nem nu BarrashopPER!"

Assim é o Mercado Popular da Uruguaiana, tradicional camelôdromo carioca. Lugar onde as classes sociais se misturam melhor que em novela das 20h. Todos com a mesma intenção: comprar barato. E há de tudo, de cigarros a eletrônicos de última geração. Um dos artigos mais procurados é o moderno Playstation, videogame da Sony. Vende como pão quente. Só perde pros CDs virgens. O mercado é high tech.

Mas parece que a hegemonia dos games está ameaçada. Às portas do verão carioca, cresce a procura por sandálias de dedo (!). E não são Havaianas. Desta feita o objeto de desejo são chinelos multicoloridos das marcas Adidas, Puma e Nike. Deite na mão do moleque 40 merréis e um destes será seu. Vende como popica Frank na Central do Brasil. O mercado é fashion.

A tendência para o próximo verão foi lançada na Uruguaiana. Em Ramos, a onda já pegou.

A moda se faz nas ruas, diria, com voz melada, Herchcovitch.

Pois.


*Around Venus é feio mas tá na moda.

8.10.06

SÓ PEPITA
O post novo tem uma seleção imperdível de animação para assistir direto no micro, algumas ainda inéditas aqui no Brasil. Coloquei todas as 18 temporadas dos Simpsons exibidas até hoje também. Ótimo pra enganar no trabalho.

5.10.06

MICHAEL JACKSON, BOLLYWOOD E QUASE DEVO. WHIP IT!
A série Sci-Fi Mex que
ela está fazendo é pra deixar realmente indignado quem perdeu a mostra de ficção científica MEXICANA, exibida no Festival do Rio 2006. Como uma coisa leva à outra, por conta de um post, acabei futucando o YouTube (pra variar) e caí aqui.

É natural a sugestão para que você perca seu tempo com
essa coleção, portanto.

* * * *
Imagine if George Lucas directed Lord Of The Rings. Não. Isso não tem qualquer conexão com o post. Mas é genial.

4.10.06

ARTE DA LATA
Uma semana foi o tempo necessário para que Anders Hattne (ou Slackdave) - um sueco de 28 anos que adora artes marciais e desenhos animados como Os Simpsons e Family Guy - elaborasse a trilha sonora composta apenas por sons extraídos de uma latinha de alumínio. A tarefa foi árdua, uma vez que todos os sons captados estavam na mesma faixa de freqüência, o que exigiu um trabalho de mouro para agrupá-los de forma harmoniosa. Finalizada a trilha, câmera em punho, pôs-se a filmar por três dias seguidos cenas de latinhas caindo no chão. O passo seguinte foi editar o material. E a laboriosa edição subtraiu-lhe mais uma trinca dias (para se ter uma idéia, os primeiros 20 segundos do vídeo levaram 6 horas para serem concluídos!). O projeto, que ele batizou de 250ml Rythm, foi feito inicialmente para participar da edição de 2005 do "Redbull Art of Can", exposição anual de obras feitas com base em latas de Redbull.

A peça acabou não sendo exibida e Anders resolveu colocá-la no YouTube. Há quatro meses no ar, 250ml Rythm já foi assistido 432,955 vezes até o momento.

Anders não ganhou nada com isso. Ainda.

3.10.06

MANCHETE DO ANO

Lula afirma que campanha será de debates

E não é piada. O problema é distinguir se é uma metáfora.

Aguardemos.

FALAR O QUÊ?

Mr. Play.

* * *
Se disser que é o Zeca Urubu adolescente eu bloqueio aqui, hein?! Bom.