27.7.06

O MARTELAR INTERMITENTE
"Pois aqui estou eu sozinho na enorme cidade subvertida, ferida de morte, invadida e estuprada de dias cinzentos e empoeirados que cheiram a gasolina e a pus, a grande cidade talada pela guerra. Aqui estou eu sem amigos e sem direção. Então, num lampejo, tudo me pareceu adulto - inclusive eu. Era isto: tudo amadurecera subtamente - a cidade, a noite, eu, os próprios meninos (numerosos e barulhentos como um enxame de abelhas famintas) que me perseguiam de mãos estendidas, sujos, insistentes, um bando sem fim de pquenos espantalhos. Tudo está maduro, à espera da morte"

* * * *
"Ando por corredores compridos, atravesso dormitórios mergulhados na penumbra ou iluminados por uma luz difusa e velada, ouço distante o som de um disco; e já agora, bem próximo, o martelar intermitente de uma máquina de escrever. O sargento levanta a lona verde que serve de porta, deixa que eu passe, empurra de qualquer jeito minha bagagem para o aposento - e lá dentro estão meus amigos Rubem Braga, do Diário Carioca, Egydio Squeff, de O Globo, e Raul Brandão, do Correio daManhã. É uma chegada inesperada, e posso perfeitamente reconstituir a atitude e postura de todos quando cheguei: Squeff batendo vagarosamente numa portátil, Brandão sumido sob uma tonelada de cobertrores e Braga, na cama, Debruçado sobre um amapa enorme do tamanho de um lençol"

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