31.7.06

DORA
"Os picos dos Apeninos começam a se encapuzar de neve, e os campos e as estradas mais elevadas ja amanhecem cobertos de uma toalha branca da qual se evola um halo de gelo"

* * * *
"O Dora [teco-teco de reconhecimento da FAB] é apenas um pequeno ponto, vagaroso, sobre as montanhas dos alemães. Assim de longe parece uma andorinha de paz, inocente e mansa. A andorinha vai e voa sobre os perigosos cumes do inimigo, mas não leva consigo nenhuma arma. Leva apenas o coração do tentente Taborda, onde se amontoam lembranças tristes de uma porção de amigos perdidos. É o suficiente, acredito"

28.7.06

CHUVA DE PIN-UPS
"Um capitão me fala da 'guerra de propaganda' que diariamente os alemães fazem contra os brasileiros. Os morteiros disparam projéteis que, ao explodirem, despejam sobre as linhas da FEB uma chuva de folhetos coloridos, com retratos de moças seminuas e legendas convidativas. vi alguns desses folhetos, e num deles, como legenda a uma fotografia de qualquer senhorita muito bela vem escrito: 'Quando vocês terão isto de novo? Não morram idiotamente na guerra. Entreguem-se às patrulhas alemães e venham descansar nos nossos campos de prisioneiros, onde há boa comida e bom tratamento.' Folhetos mais ou menos semelhantes são jogados sobre as linhas americanas e inglesas do 5° e do 8° Exércitos."

* * * *
"Meu colega Francis Hallawey, da BBC, perguntou ao cabo alemão o que ele achava dos brasileiros. Ele respondeu: - São muito violentos e agressivos. Lá na nossa frente, os tenentes e os sargentos nos avisam diariamente para termos muito cuidado com os brasileiros."

27.7.06

O MARTELAR INTERMITENTE
"Pois aqui estou eu sozinho na enorme cidade subvertida, ferida de morte, invadida e estuprada de dias cinzentos e empoeirados que cheiram a gasolina e a pus, a grande cidade talada pela guerra. Aqui estou eu sem amigos e sem direção. Então, num lampejo, tudo me pareceu adulto - inclusive eu. Era isto: tudo amadurecera subtamente - a cidade, a noite, eu, os próprios meninos (numerosos e barulhentos como um enxame de abelhas famintas) que me perseguiam de mãos estendidas, sujos, insistentes, um bando sem fim de pquenos espantalhos. Tudo está maduro, à espera da morte"

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"Ando por corredores compridos, atravesso dormitórios mergulhados na penumbra ou iluminados por uma luz difusa e velada, ouço distante o som de um disco; e já agora, bem próximo, o martelar intermitente de uma máquina de escrever. O sargento levanta a lona verde que serve de porta, deixa que eu passe, empurra de qualquer jeito minha bagagem para o aposento - e lá dentro estão meus amigos Rubem Braga, do Diário Carioca, Egydio Squeff, de O Globo, e Raul Brandão, do Correio daManhã. É uma chegada inesperada, e posso perfeitamente reconstituir a atitude e postura de todos quando cheguei: Squeff batendo vagarosamente numa portátil, Brandão sumido sob uma tonelada de cobertrores e Braga, na cama, Debruçado sobre um amapa enorme do tamanho de um lençol"

26.7.06

A CHEGADA A NÁPOLES (OU SERIA SALVADOR?)
"Bem, meu nome é joel Silveira, jornalista de 26 anos e estou indo para a guerra. Voltarei? Lembro-me das palavras de Assis Chateaubriand, meu patrão, quando dele fui me despedir, já devidamente fardado: 'Seu silveira, me faça um favor de ordem pessoal. Vá para a guerra mas não me morra. Repórter não é para morrer, é para mandar notícias.' Prometi obedecer cegamente as suas ordens, e tenho de cumprir a promessa"

* * * *
"Estamos diante de uma Nápoles nublada e triste. Vejo-a assim, amarfanhada e encolhida, mas penso comigo mesmo que se houvesse sol ela bem poderia ser Salvador"

* * * *
"Escrevo rapidamente esta reportagem precisamente quando o General Meigs inicia as manobras de atracação. Os últimos avisos e ordens já estão sendo transmitidos pelas várias e possantes bocas dos alto-falantes - algumas em inglês, a maioria em português e todas resumem uma só orientação: a de como a tropa de mais de 6 mil homens deve se comportar quando do desembarque; e, sem seguida, quando de sua permanência no cais, sob chuva fria"

A VÍBORA
É de Assis Chateaubriand as aspas (Vá, mas não me morra") que abrem o post do dia 21/07 . Dita em 1944, a recomendação tinha como alvo um jovem repórter de 26 anos a quem o barão das comunicações chamava de "víbora" do jornalismo. Seu nome era Joel Silveira e, quando ouviu as palavras de Chatô, estava embarcando para a Itália, onde mergulharia, após uma extenuante viagem cortando o Atlântico, no inferno da Segunda Guerra Mundial. No front, acompanhando os pracinhas da bravia Força Expedicionária Brasileira (FEB), testemunharia os horrores do conflito mundial, dividindo as disputadas trincheiras com outros correspondentes como o genial Rubem Braga. Sobre a sua experiência na Europa, Joel Silveira costuma dizer: "Eu fui para a guerra com 26 anos, fiquei lá dez meses e 11 dias, e voltei com 40 anos. A guerra me fez adulto".

Joel é uma figura sensacional. Sua prosa ao mesmo tempo sensível e mordaz não deve nada aos grandes escritores brasileiros. Com quase 90 anos de idade, vítima de uma catarata que lhe impede de ler (sua maior paixão), a velha víbora é uma lenda viva do jornalismo, além de ser um dos precursores do chamado "jornalismo literário". Sua cobertura da Guerra para os Diários Associados resultou, anos mais tarde, no livro O Inverno da Guerra (Ed. Objetiva). Um livro belíssimo que muitas vezes fica escondido nas estantes das grandes livrarias. Um crime!

Portanto, a partir de hoje, gostaria de dividir com vocês, através de uma série de posts, alguns trechos dessa correspondência brilhante que destaquei ao longo da leitura. Espero que gostem. Lembrando que os trechos não substituem o fascinante mergulho nas linhas do autor, batidas à máquina direto do sangrento front.

25.7.06

ENTÃO
Eu tinha um post pra hoje, mas o computador do trabalho está de SACANAGE comigo. Em casa, como disse, tou offline, portanto impossibilitado de postar. Infelizmente. É uma pena. Mesmo. Queria muito de lá pra cá mandar as mal tecladas. Inda mais hoje, que tive uma idéia bacana pra uma série de posts. Acho que amanhã ela vai ao ar. É só o computador cooperar. E ele há de fazê-lo.

Around Venus é picareta mas é do bem.

;)

21.7.06

"VÁ, MAS NÃO ME MORRA!"
O historiador Andrew Carroll é um aficionado pelos relatos militares feitos por combatentes direto do front, no calor dos fatos. Sua paixão rendeu-lhe
diversos livros elogiados pela crítica. Autor de títulos como "Behind The Lines" e "War Letters: Extraordinary Correspondence from American Wars" ("Cartas de Guerra: Correspondência Extraordinária das Guerras Americanas", tradução livre), Carroll se debruça mais uma vez sobre fragmentos de cartas e diários de soldados americanos e prepara o lançamento de seu próximo trabalho: " Operation Homecoming". O livro é resultado de um intenso trabalho de pesquisa em cima das anotações dos militares que serviram nas recentes guerras do Iraque, Afeganistão e no combate ao terrorismo ao redor do mundo. O lançamento está marcado para o dia 12 de setembro. Contudo, já é possível ler alguns relatos nesta apresentação de 30 minutos produzida por Matt Dellinger, publicada pela The New Yorker Magazine.

11.7.06

TÁ SE UZÂNU
Depois da faixa/cinto um palmo acima do umbigo e imediatamente abaixo da maminha (troço mais esquisito!), a moda agora é andar por aí descalço, mostrando as imperfeições dos dedos dos pés. Até a Britney Spears já embarcou nessa. No caso da loura, parece que se cansou de mostrar somente as imprefeições da bunda. Bunda estranha. E como. Mais detalhes por Lauren Collins.

10.7.06

Quando ela, braços enlaçados, deita a cabeça no seu ombro e, de olhinhos fechados, respira de leve no seu pescoço, tudo faz sentido.

FECHANDO O CAIXÃO

O maestro mostrou que além de jogar um futebol bonito de se ver, sabe usar como poucos a cabeça.

Já Ronaldo, como é sabido, faz jus à sua fama de comedor.

6.7.06

PYONGYANG NÃO É HAVANA
“Nós mantemos a revolução à nossa maneira, de acordo com nossa convicção em meio a esta situação complicada e conflitante, já que possuímos um poder militar revolucionário e invencível, mesmo para os imperialistas dos EUA.”

As aspas vêm da Coréia do Norte, numa clara provocação aos Estados Unidos. As ogivas intercontinentais, lançadas feito flexas incandescentes, continuam a cair no Mar do Japão. E o mundo, de forma melancólica, assiste à mais uma crise dos mísseis.

Artemii Lebedev é um conhecido web-designer. Russo, criado durante anos sob a égide do comunismo, recentemente viajou à Coréia do Norte. Impressionado com esse que é um dos últimos bastiões do comunismo, documentou o que viu.

"Ao chegar no país você será acompanhado de um guia e um motorista que não se afastarão de você durante toda a sua visita. Você não poderá sair o hotel por conta própria. No quarto, alguns canais de TV são permitidos: BBC (inglês), NTV (russo) e outros poucos chineses, de modo que você não pode reclamar muito da liberdade de expressão. A comida é boa e você também não pode reclamar disso. Porém, ao avistar uma senhora nativa agachada catando ervas em um parque, o guia me disse que era para alimentar os coelhos. Mas era óbvio que a senhora catava o mato para ajudar na sua própria alimentação."

Seu belo registro, feito às escondidas, está
nesse site. A maioria das fotos é durante o dia, já que após as 23h a luz da cidade é cortada. Apagão na Coréia é regra.

Mais fotos
aqui.

5.7.06

SILVIO SANTOS VINHA AÍ

Ano eleitoral. Uma chatura. De um lado, disputando a cadeira de líder máximo da nação, um membro do Opus Dei. Doutro, em posição privilegiada concorrendo à reeleição, um analfabeto que é no mínimo omisso (há quem o identifique como chefe de quadrilha, bêbado, populista... Adjetivos não faltam). Os outros personagens do circo você conhece. E são sempre os mesmos. Umas bestas.

E em 1989 não era diferente. O ano da primeira eleição direta que se realizaria no Brasil após décadas de ditadura trazia uma enxurrada de candidatos. Todos atrás das migalhas deixadas pelos militares. Os mais de 20 nomes na cédula eleitoral era a confrimação do ótimo negócio. Do lado oposto, um país inteiro nadando em esperança. Dentre os candidatos a salvar a pátria, medalhões como Brizola, Ulysses e Maluf. Os nanicos eram muitos também, como Marronzinho e o estreante Enéias Carneiro. Os mais fortes eram Fernando Collor e Lula, uma disputa acirrada. Corrêa era um dos muitos que não tinham qualquer expressão. Desacreditado da vitória, pôs à venda a sua candidatura. Era um pragmático.

Menos de um mês antes das eleições, a reviravolta. A bandinha do maestro Zezinho, um coro de mil vozes desafinadas, e Silvio Santos surge com seu sorriso largo no meio da multidão. Em cima do carro, braços abertos como o Redentor, saúda o populacho como Porfírio Diaz de Terra em Transe. A vaga de Corrêa havia sido comprada pelo dono do SBT. Em menos de uma semana, um salto homérico nas intenções de voto. E como era bonito ver o Patrão no horário político. Falando às colegas de trabalho, não tinha para ninguém. A lousa reproduzindo a cédula eleitoral, trejeitos de quem vende sonhos indicavam um "x" que devia ser posto ao lado do nome do Corrêa. Simples assim e Silvio Santos viraria presidente da república. E não era piada.

A Justiça Eleitoral interveio. Candidatura embargada. A disputa voltou a ficar entre Fernando Collor e Lula. Collor venceu e o resto é história.

Não acredita? Então assista ao
vídeo da campanha de Silvio Santos e chore.

3.7.06

VIDEO KILLED THE RADIO STAR
Os 100 melhores videoclipes, segundo a Pitchfork. O primeiro é "Take on me", do A-ha. O último você descobre nevegando no site, porque eles tiveram o trabalho de montar a lista.

"Coffee & TV" (Hammer & Tongs, 1999), do Blur não ficou de fora. E uma das razões para gostarmos do vídeo, segundo Stephen M. Deusner, crítico musical da terra do Jack Daniel's, cujas linhas são publicadas pelo Memphys Flyer, popmatters.com e pitchforkmedia.com, é que "o clipe é todo Graham Coxon e nada Damon Albarn". É uma boa definição. Coxon, como é sabido, é o introspectivo guitarrista egresso do Blur. Em carreira solo, ganhou status de cult e já lançou ótimos discos que podem ser encontrados com facilidade rede afora. Jonny Greenwood, da enjoada Radiohead, paga um pau danado pro rapaz.

Tem aberrações na lista também. "Hello" (Bob Giraldi, 1984) do Lionel Richie (lembra do
Lion Man? Igual!) é uma delas. Segundo David Raposa, do Village Voice, esse poderia ser o Plan 9 from Outer Space dos videoclipes. Ed Wood fazendo escola, mané.

Vai que que tá assim de vídeo pra você que não faz nada assistir.

HITLER É UM GATO
Bichanos que são os cornos de Hitler. Cora Rónai que não nos ouça.