16.2.07

ENSOLARADO BYTE

Dolores caminha até a modesta banca de vinis, apoia uma pequena vitrola sobre uns LPs antigos, espeta o headphone na sua lateral e, olhos de lince, começa o garimpo musical. O produtor sergipano, que adotou o Recife como lar, escolhe discos como quem desfaz montanhas em busca da diminuta pepita de ouro. Quando encontra algo, deita-lhe a agulha e escuta minuciosamente faixa por faixa. Ouve atento não somente as músicas, mas sobretudo os conselhos do velho Ximba, dono da banca que fica no bloco 34 de uma feira popular no Recife: "Rufo Garrido, do Chico Cervantes, ó! Esse é o tal da 'mulher cunhão'!"

Referência na arte de fundir sons orgânicos a beats eletrônicos, Dolores foi um dos pioneiros do movimento Mangue Beat, antes mesmo de Chico Science criar o nome que rotularia para sempre a manifestação cultural que tomou a cidade do Recife - e o Brasil - no início da década de 90. "inicialmente [o Mangue Beat] era uma cena de DJ, não tinha banda. Banda só começou a aparecer mesmo depois. A força estava em você tocar uma gravação.", lembra o DJ.


Além de Dolores, tiveram ainda participação-chave na criação das bases do movimento Neilton e Doktor Mabuse. O primeiro é guitarrista da Devotos e um dos principais agitadores da cena do Alto José do Pinho. Já Mabuse foi nada menos que o responsável por apresentar Du Peixe, Lucio Maia e Chico Science a Fred 04, líder do Mundo Livre S/A. Com Chico, anos antes, no final da década de 80, fundou a Bom Tom Radio, banda punk que pode ser considerada o embrião da Nação Zumbi. Fascinado por computadores, Mabuse assumiu a posição de "ministro da tecnologia" do Mangue Beat, desempenhando papel fundamental para a consolidação do movimento. Uma das suas criações mais importantes foi o Manguetronic, primeiro programa de rádio voltado exclusivamente para a internet em toda a América Latina, o que possibilitou levar o manifesto para além das fronteiras do Recife. O resto é história.

E é justamente sobre este período de grande ebulição artística que o diretor Mauricio Correa da Silva se debruçou para filmar "Ensolarado Byte", documentário que, focando nos três artistas, procura esquadrinhar os fatos que levaram ao nascimento do Mangue Beat.

Lançado em 2005, o filme não teve boa distribuição e acabou escondido nas grades das redes TVs públicas brasileiras. Mas se você caiu aqui no blog, então terá a oportunidade de assistir ao documentário quando quiser, bastando seguir apenas os links abaixo:

Baixe em diversos formatos

Assista através do Google Video

E Viva Chico Science!

* * * * * *
Sobre o carnaval:


O blog faz uma pequena pausa e retorna quando a folia acabar.

Durante o hiato, incorporarei o corsário e farei-me à rua. Vou de bloco em bloco, arrastando o pé ao sabor do baticum, procurando meu caminho entre serpentinas e confetes perdidos. Vou atrás da mais bonita das cabrochas. Quero um amor de carnaval, daqueles que viram pó na quarta-feira de cinzas; dos que marcam profundamente e desaparecem. Pra sempre.

Afinal, rock MERMO é se jogar sem medo na avenida, pedir apito, falar da cabeleira de um tal Zezé e ainda gritar "cidade maravilhosa" quando se vive dias de guerrilha urbana no Rio de Janeiro. É dividir a ala com a Guarda Nacional de Segurança, batalhões de operações especiais e mais duas facções criminosas armadas até os dentes, desfilando em bondes do terror. Não leve a mal, mais isso, sim, é roquenrrô.

O resto é gênero.

6 comentários:

Anônimo disse...

Quem lê até pensa! Há!

Valeu Folião! ;P

Emiliano Mello disse...

Perdeu, seu hippie de araque! Rio é o eque há. Se melhorar afunda, garoto!
;)

Anônimo disse...

Tá ouvindo um eletrônico né??

Emiliano Mello disse...

Cara, baixa esse doc que é fodão!

Anônimo disse...

Já está no hd, pra sua informação.

Emiliano Mello disse...

Boa, garoto!