4.3.07

VAMOS FALLÁ DO NORTE

Ele era o mais introspectivo nas rodas. Era mais ele, o mais pessoal. Imagine que, em 1933, a gente saía do centro, tantas noites, e tocava de volta para Vila Isabel a pé, apreciando a noite. Vinhamos de papo. A gente, que eu digo, era o pessoal de jornal e de samba, como o Sílvio Fonseca, o Orestes... Ele nos acompanhava atrás, quieto, mirrado, mas na escuta. Uma dessas noites, Orestes Barbosa desandou pelo caminho a descer o pau na adulteração das coisas Brasileiras, na entrada dos costumes estrageiros, na desvalorização da nossa própria linguagem. E por aí, exaltado como Orestes era. Dias depois, ele me chama na rua; 'Olhe aqui, ô Nássara, esse sujeitinho é um danado, ele é o maior poeta popular do Brasil. Ouve só esses dois versos: Tudo aquilo que o malandro pronuncia, com voz macia / É brasileiro, já passou de português.


Antônio Nássara, jornalista, cartunista de afiada pena, malandro carioca, pai da marchinha Alalaô e de muitos sambas, em declaração sobre Noel Rosa retirada da coleção Literatura Comentada (Nova Cultural, 1988). Os versos destacados por Orestes Brabosa são de "Não tem tradução", samba de 1934 cuja letra faz uma crítica à influência do cinema falado no linguajar brasilero.

Noel começou a carreira no Bando de Tangarás, grupo formado por Almirante, Braguinha (João de Barro), Alvinho e Henrique Brito, em 1929. O compositor ia em 18 anos quando se juntou à turma. Era o mais jovem dos cinco músicos. Apesar da tenra idade, já gozava da fama de excelente violonista no bairro de Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro. Importante dizer que desde os catorze anos, pelo menos, freqüentava a boemia carioca. Começou tocando bandolim, ensinado por sua mãe, e passou ao violão, instrumento de seu pai. Um talento e tanto nas cordas. Com o Bando, ainda em 29, apresentou ao público "Na Pavuna", primeiro samba gravado com instrumentos de percussão e o preferido do carnaval de 1930.

Neste vídeo raro, Noel, Braguinha, Almirante, Alvinho e Henrique Brito tocam em "Vamos Fallá do Norte". Atenção a Noel Rosa afinando o violão no meio da música. Almirante é quem canta. O registro é de verter lágrima.

Em tempo: Tangará é o nome de um pássaro alegre e de canto muito bonito que, em grupo de cinco, costuma se reunir para cantar e dançar. A lenda diz que seu canto é tão melodioso que quando ele começa a cantar, os outros pássaros param para ouvi-lo.

5 comentários:

Anônimo disse...

maneiríssimo!
nos tempos de eu menino minha vó cantava:
"calango tango no calango da lacraia o meu burro come mio sua égua come paia"

Anônimo disse...

Noel atualíssimo
pouca coisa mudou

Anônimo disse...

eu to vendo esse video toda hora
viciei
gosto da parte que ele fala do perfume da madama

Anônimo disse...

Sensacional. Além de todo o resto, só ver Noel tocando (VER Noel tocando!) já vale o vídeo. Valeu!

Anônimo disse...

Eu também não consigo parar ver. A música é sensacional, e Noel tocando é emocionante!